Há 150 anos comemora-se, no dia 8 de Março, o “Dia Internacional da Mulher”. Esta data é uma homenagem à morte de 150 operárias que lutavam pela redução da carga horária de trabalho diária de 16 horas para 10 horas, em Nova Iorque. Há quatro décadas, as mulheres iniciaram uma revolução de costumes pela igualdade de direitos, onde, conseguiram mais espaço no mercado de trabalho; o direito de viver a sexualidade sem culpa e mais autonomia e independência.
Hoje representamos 45% da população economicamente ativa; 40% do PIB mundial; somos maioria (60%) nos cursos de pós-graduação e MBA; ocupamos postos chaves; somos tão provedoras quanto os homens; aprendemos a conciliar trabalho com o desafio da maternidade; ficamos mais seletivas e compromissadas com o nosso desejo e prazer; vivemos mais do que os homens (em média 6 anos); nos separamos; adiamos a idade do casamento; assumimos a chefia da casa; damos conta da casa, do marido, filhos, trabalho e beleza… Alcançamos a cidadania. Mas, ainda somos vítimas de violência doméstica (29%), arcamos com uma dupla jornada de trabalho (91%) e ainda recebemos, em média, 30% a menos que os homens pelo mesmo trabalho. Nós nunca temos folga – para nós não há hora, há vida!
ALMA FEMININA
As mulheres são intuitivas, sensíveis, adoram detalhes, entendem melhor a necessidade das pessoas; percebem a pureza de um silêncio; adoram perfumarias, farmácias, lojas de departamentos, de roupas e sapatos; deliram com uma liquidação; convivem com um sentimento de auto-cobrança para dar conta de tudo e sem falhas; lidam bem com a burocracia cotidiana do lar; têm paixão e envolvimento com a família e apego à carreira; possuem energia para dar e vender; desejam ardentemente ter alguém que as ouça e as entenda; almejam pela realização social e uma melhor qualidade de vida. Lutam em casa e na rua por suas verdades, desejos e interesses. Não são mais taxadas de “sexo frágil”.
Na visão do poeta Neruda, as mulheres “sorriem quando querem gritar. Cantam quando querem chorar. Choram quando estão felizes. E riem quando estão nervosas…” Será que é tão difícil assim os homens nos entenderem? Ah! E também atenderem aos nossos desejos?
DA EVA SEDUTORA A AMÉLIA
Nós mulheres vivemos um momento de inquietude. Lutamos pelo resgate do prazer pela vida e tentamos nos desvencilhar do medo histórico da perda, da necessidade de ter que ter sempre alguém para cuidar (maridos, filhos,…). Fomos criadas para sentir medo da solidão e de não conseguir crescer sem a presença de um homem do nosso lado, afinal fomos educadas numa sociedade patriarcal que trata homens e mulheres de formas diferentes. Revolucionamos costumes e convenções. Diminuímos as desigualdades. Conquistamos voz no social e ganhamos mais força na relação com o mundo. Mas, aprender a construir nossa identidade social tem sido uma tarefa árdua. Enfrentar um padrão estético imposto pela sociedade e conciliar o papel de fêmea, mãe e profissional, promovendo o reencontro do ser social com o ser individual tem sido difícil.
Todas essas mudanças não ocorreram só com as mulheres, mas com os homens também. É na relação com o outro que construímos nossa identidade. Somente nos avaliando e percebendo como pessoas que podemos nos enxergar como mulher, tendo clareza de que é o afeto que faz a vida valer a pena. Não queremos mais o papel de Evas sedutoras, muito menos de Amélias. Queremos ser “aquela mulher que fez a escalada da montanha vida, removendo pedras e plantando flores” (Cora Coralina).