Ser feliz virou obrigação. Vivemos uma ditadura de felicidade e isso está nos adoecendo. Existe uma constante cobrança social de que temos que ser felizes. Mais ainda: precisamos convencer a todos de que somos felizes. Toda essa pressão acaba se transformando em positividade tóxica, ou seja, não importando o que realmente esteja acontecendo em nossa vida, precisamos manter o pensamento positivo, excluir os sentimentos negativos e acreditar que no final tudo vai dar certo. Acontece que a felicidade plena não combina com o modo humano e muito menos é definidora de mundo.
Viver é transitar entre a alegria e a tristeza, entre o bem-estar e a dor. Acreditar que ignorando os sentimentos ruins vamos viver melhor; que negando as circunstâncias difíceis da vida, elas deixarão de existir é produzir o autoengano. Precisamos entender que é normal as pessoas ficarem tristes, ansiosas e estressadas. Os sofrimentos e as tristezas precisam ser vividos para que possam ser ressignificados. Trabalhar as nossas dores é a melhor forma de tentarmos nos tornar pessoas melhores.
Viver bem dá muito trabalho e não depende unicamente de nossos desejos. É preciso ficar atento à positividade tóxica. Ela está se tornando um estilo de vida e as redes sociais têm reforçado essa prática ao divulgar situações de superação como sendo regra geral, quando, na verdade, é exceção. Essa obsessão com o pensamento positivo tem levado as pessoas a silenciar a dor e, assim, adoecem. Procure analisar o que está acontecendo em sua vida, entenda seus sentimentos e acolha a sua dor.
Todas as emoções são importantes. Não podemos minimizar ou desqualificar o sofrimento e a dor. As emoções positivas como alegria, otimismo, esperança, gratidão e serenidade , não são contrapontos às energias negativas como raiva, mágoa, angústia, culpa, desespero e o medo, entre outras. Nós não podemos deixar de ser quem somos. Não viver o que sentimos nos adoece. Transformar a vida em alegria tóxica pode ser gatilho para quadros depressivos e para doenças autoimunes. Não devemos tentar silenciar nossas emoções. As dores são necessárias para o nosso crescimento. As dificuldades são os alicerces da nossa construção.
É óbvio que há benefícios para quem é otimista diante da vida. Pensar positivamente é reconfortante e nos ajuda a caminhar com esperança. Porém, rejeitar as emoções negativas é desconhecer que todos os afetos são fundamentais para a manutenção da nossa vida e da nossa sobrevivência. Silenciar emoções e sofrimento nos impede de pedir ajuda e de nos tratarmos quando adoecemos (os quadros de depressão e de ansiedade têm aumentado assustadoramente).
Segundo Freud, “o pensamento é o ensaio da ação”, contudo a vida acontece no movimento. Caminhemos em direção ao que nos faz feliz. Alimentemos nossos desejos e escolhamos conviver com pessoas que agreguem valor à nossa vida. Por uma vida melhor e mais leve, fujamos da positividade tóxica.