Vivemos assombrados com a violência a nossa volta; estamos cada vez mais trancados, protegidos por grades e nem assim estamos totalmente protegidos! E à medida que a exposição à violência urbana aumenta, também aumenta a possibilidade de qualquer um de nós ser vítima de assalto, sequestro, acidente de carro, violência física ou sexual ou virar refém em uma situação em que você passava pela rua quando começou um tiroteio entre a polícia e os bandidos. Quem já passou por uma situação dessas, como vítima ou como testemunha, sabe o quanto as cenas acontecidas, muito provavelmente, vão invadir sua vida, perturbar o seu sono e lhe roubar a paz.
As pessoas que experenciaram situações de violência em que viveram a possibilidade de morte e que ficaram com marcas na alma (muitas vezes no corpo também), mesmo que tenham saído destas situações sem nenhum ferimento, continuam sofrendo com a lembrança do episódio acontecido, podem estar sofrendo de Estresse Pós-Traumático, um transtorno de ansiedade que se caracteriza pelo medo excessivo causado pela dolorosa repetição de uma recordação intensa de uma situação limite de ameaça sofrida e que provocou muitos danos.
O reviver das cenas ameaçadoras pode acontecer de forma tão intensa que despertam reações físicas e emocionais semelhantes às ocorridas quando tudo aconteceu ao ponto de deixar a pessoa momentaneamente em dúvida se o que está acontecendo é realidade ou fruto da sua imaginação. O que é pior, estas lembranças indesejáveis acontecem de forma involuntária e muitas vezes perseguem as pessoas em seus sonhos, tornando-se um pesadelo constante, que as faz acordar no meio da madrugada gritando, suando, apavoradas, com taquicardia e com a nítida sensação de que estão novamente submetidas aquela situação de violência traumatizante.
A ocorrência do trauma depende não só do episódio acontecido, mas principalmente de como a pessoa processa a informação de tudo o que aconteceu e de como percebe e relembra a situação vivida anteriormente. E, como a capacidade de resiliência (a arte de cair, levantar, sacodir a poeira e dar a volta por cima) varia de pessoa para pessoa, tem gente que apresenta extrema dificuldade em resignificar as vivências dolorosas e, por conseguinte, evita de todas as maneiras possíveis tudo o que possa lhe trazer as lembranças perturbadoras da situação traumática – acontece que tudo que se evita, se convive, por isso as lembranças traumáticas permanecem quando se tenta fugir delas.
As estatísticas revelam que, no mínimo, uma em cada dez pessoas que viveram uma situação traumática desenvolvem o Estresse pós-traumático. Os principais sintomas do transtorno são: medos exagerados, pesadelos ou lembranças repentinas, fuga de situações que relembrem o trauma, reações desproporcionais a estímulos, ansiedade e humor deprimido; por conta disso tudo, algumas pessoas acabam se envolvendo e abusando do uso de álcool e de outras drogas como forma de fugir de seus medos e temores. Ledo engano, isso só faz potencializar tudo o que poderia acontecer.
Se você vivenciou alguma situação traumática, e as lembranças do acontecido lhe perseguem e a impedem de viver em paz e em tranquilidade não sofra desnecessariamente tentando ser mais forte do que você já é, pois conseguiu sobreviver à situação. O Estresse pós-traumático é uma doença e precisa ser tratada; procure ajuda terapeutica para que possa resignificar os fatos e aprender a lidar com sentimentos e lembranças.