O medo é uma emoção universal que se faz presente desde o nascimento (faz parte da nossa herança genética) e nos acompanha até a velhice, tendo a função de nos avisar dos perigos da vida. As crianças, como ainda não dispõem de recursos internos que lhe permitam compreender a realidade de uma forma adequada, fantasiam e aumentam as possibilidades do perigo (por isso os bebês costumam ficar muito assustados e choram ao ouvirem ruídos fortes, gritos…), dependendo de um adulto para se sentirem emocional e fisicamente protegidas.
As crianças vão crescendo e outros medos vão sendo incorporados às rotinas das suas vidas, sendo que as situações que mais as angustiam (dos 2 aos 6 anos) são: o escuro, a solidão e o abandono. A criança sente-se completamente desprotegida ao acordar no meio da noite e não conseguir ver os objetos que lhe servem de referência de espaço durante o dia; ao se perceber só e no escuro, sua imaginação entra em ação transformando os barulhos da noite e as sombras em perigos sobrenaturais e imaginários, representados por figuras assustadoras (monstros, fantasmas, bruxas, seres de outros planetas). Também tem medo de ser abandonada, por isso chora quando se afasta de casa ou das pessoas com quem tem forte vínculo afetivo, especialmente a mãe.
A criança tem uma imaginação fértil
A infância é um período marcado por muitas fantasias e isso é essencial para um desenvolvimento saudável. O pensamento da criança é sempre muito criativo e exagerado, por isso as suas noites são povoadas por seres temidos, o que a torna vítima da sua própria imaginação. A partir dos 6 anos, a criança tem maior compreensão da realidade e consegue lidar com seus medos de uma forma mais racional.
Os adultos também ajudam a alimentar os medos das crianças através de ameaças “não vai pra lá que o bicho (ou bruxa, ou o “velho do saco”…) te pega! Além disso, a criança assiste TV, ouve os comentários sobre assaltos, violência, sequestros, pedofilia e passa a incorporar em sua vida os medos dos adultos. Às vezes, as vivências dolorosas circunstanciais ocorridas com alguém da família como doenças graves, acidentes, morte de pessoas próximas, assaltos… costumam aumentar seus medos diante da vida.
Ter medo é natural
A maioria dos medos infantis, desde que vividos de forma controlada, tendem a desaparecer com o tempo; mas quando vividos de uma forma exagerada podem virar fobia. Assim, ao perceber os sinais do medo (sono agitado, dor de barriga, palpitações, xixi exagerado, suor nas mãos…) converse com a criança sobre o que está acontecendo e valorize o que é verbalizado por ela. Carinho e atenção são essenciais para que ela supere as vivências dos medos.
Os pais também podem ajudar bastante contando aos filhos que é normal ter medo, que eles também passaram por isso na infância. Especialmente na hora de dormir fique um pouco com seu filho, converse, conte uma história, reze a oração do anjo da guarda e deixe uma luz fraquinha acesa no quarto para que, se ele acordar no meio da noite, possa ver tudo que está acontecendo ao seu redor. Explique e repita sempre que o medo aparecer, que a medida em que as crianças crescem, elas entendem melhor a realidade e conseguem distinguir o real do imaginário, daí muitos medos somem. O fundamental é que nossos filhos tenham sempre colo, carinho e a certeza de que receberão o aconchego e abraço apertado sempre que precisarem, afastando os bichos-papão da vida.