Durante muitos anos, acreditou-se que o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH era um distúrbio que acometia somente as crianças, e também se pensava que essa desatenção, impulsividade e hiperatividade era algo próprio da idade e sendo assim, os sintomas melhorariam espontaneamente com o passar do tempo. Ledo engano! Infelizmente, os adultos não estão livres das consequências do TDAH; o que pode acontecer é que nos casos mais leves da doença, com a chegada à vida adulta as pessoas tendem a ficar mais responsáveis e isso as faz ficar mais cuidadosas e empenhadas nas tarefas.
É preciso que se saiba que o TDAH é consequência de um problema genético, que prejudica o funcionamento da região pré-frontal do cérebro, área responsável por regular impulsos e filtrar as informações processadas pelo cérebro. Sem essa filtragem, tudo fica muito “embaçado”! Um dia, um adulto com TDAH me definiu o que ele sentia dizendo “que o pensamento dele era muito inquieto como ele, e que ele tinha a sensação de que seus pensamentos se atropelavam na sua cabeça e o faziam perder o foco”. É isso!
O nosso cotidiano é repleto de urgências, as demandas no trabalho são inúmeras, as tecnologias da informação nos envolvem numa dose excessiva de estímulos cerebrais, as cobranças por produtividade e resultados nos perseguem e o tempo torna-se insuficiente para realizar tantas tarefas, que vão se acumulando e levam muitas pessoas a viverem num estado de estresse constante e, nesse contexto, elas até apresentam alguns sintomas do TDAH, mas não têm TDAH; muito provavelmente, o que elas têm é uma rotina muito tóxica, geradora de uma carga acentuada de estresse e ansiedade que as faz perder o sono e sair do prumo.
Para que seja considerado TDAH é preciso que os sintomas relacionados à desatenção, impulsividade e hiperatividade façam parte da vida da pessoa desde a infância (essas características nem sempre vêm juntas, nem todo portador do TDAH é hiperativo), que estejam presentes em mais de um ambiente e que afetem o funcionamento do indivíduo a ponto de trazer prejuízos para a sua vida. Vários estudos têm comprovado que quando o TDAH não é diagnosticado e tratado pode arruinar a autoestima da pessoa, suas relações afetivas e principalmente o seu desempenho profissional.
Os adultos com TDAH não apresentam problemas na inteligência, mas têm dificuldade em organizar seu tempo; em iniciar e terminar tarefas, por isso têm sempre trabalhos acumulados; evitam trabalhos que vão exigir deles muita atenção e concentração; são impacientes, têm baixa tolerância à frustração, estão sempre procrastinando; apresentam lapsos momentâneos de memória; têm limitações para trocar de estratégias; convivem com dificuldades e fracassos, têm baixa autoestima e são mais propensos a fazer um quadro depressivo; e também são muito suscetíveis ao uso de drogas e à promiscuidade, entre outras coisas.
Quanto mais cedo for realizado o diagnóstico, melhor o prognóstico do tratamento. O TDAH não tem cura, mas tem tratamento que envolve medicação (melhora os sintomas e funciona como um estimulante que ativa os filtros cerebrais) e psicoterapia (ajuda o paciente a organizar os pensamentos e a planejar o seu dia). Infelizmente, muitas pessoas só descobrem que têm TDAH quando seu grau de sofrimento na vida já está bastante adiantado e aí eles procuram ajuda.
Precisamos estar vigilantes pois o TDAH é uma das disfunções neurológicas mais comuns entre os adultos e uma das mais frequentes no ambiente de trabalho.