Alguns termos da psiquiatria (depressão, bipolar, psicopata, psicótico…) entraram para o vocabulário cotidiano das pessoas e, na maioria das vezes, são usados de forma incorreta; por exemplo: basta uma pessoa ficar muito indecisa e mudar de opinião para ser chamada de bipolar. Na verdade, o Transtorno Bipolar é um distúrbio psiquiátrico complexo, em que a alternância de humor costuma ser a característica mais marcante, pois a pessoa pode alternar momentos de depressão e irritabilidade para momentos de grande euforia.
O que caracteriza o quadro bipolar não é uma simples e repentina alteração de humor, qualquer pessoa, dependendo das circunstâncias da vida, pode apresentar alteração de humor. É preciso que ocorram oscilações patológicas de humor, em que não precisa acontecer muita coisa para que a pessoa possa ir de um estado de grande euforia, de muita energia e de autoestima elevada para um humor depressivo, com perda de interesse e prazer pelas coisas que antes lhe agradavam e buscar o isolamento social, entre outros sintomas.
Até bem pouco tempo, o Transtorno Bipolar era considerado uma doença de adultos, porém, infelizmente, as evidencias científicas atestam que ela também atinge a população infantil e, o que é pior, com uma frequência maior do que se imagina. Ainda existe pouca literatura a respeito do assunto, mas sabe-se que 20% a 40% dos adultos diagnosticados com Transtorno Bipolar, já apresentavam os sintomas do quadro desde crianças. O mais comum é a doença se manifestar no final da adolescência e início da fase adulta.
O diagnóstico do Transtorno Bipolar em crianças pode ser difícil e demorado em razão das crianças apresentarem mais flutuações e alternância de emoções do que os adultos; elas podem passar, em poucos minutos, de um estado de excitação e de felicidade para um estado de desinteresse, de desânimo e de apatia sem que isso seja característico de um Transtorno Bipolar. Elas conseguem olhar para um brinquedo antigo como se os tivessem vendo pela primeira vez, assim como podem deixar de manifestar interesse por algo novo em poucos minutos.
Como as crianças não conseguem expressar de forma exata e clara o que estão sentindo, fique atenta e, se o seu filho apresentar, com frequência, várias dessas características, o recomendado é que você o leve a um profissional especializado para que ele seja avaliado. Preste atenção: se o seu filho apresenta humor e excitação elevados, muitas vezes inadequados ao lugar ou momento; se costuma colocar-se em situações perigosas; se passa a falar muito rápido e muda de assunto sem concluir o que estava falando; se apresenta alteração significativa no peso e no sono; se está muito agressivo e impulsivo; se perde o interesse pelas coisas e se isola; se apresenta frequentes problemas escolares ou se recusa a ir à escola; se as pessoas evitam uma maior aproximação com ele.
“A infância é quando ainda não é demasiado tarde” (Mia Couto) e assim, o diagnóstico e tratamento de qualquer doença desde a infância, trazem um prognóstico de melhoras consideráveis na fase adulta.