Dia 7 de abril já entrou, de forma trágica, para a história do povo brasileiro. Nesse dia, Wellington de Oliveira, de 23 anos, promoveu uma carnificina na Escola Municipal Tasso da Silveira, localizada em Realengo-RJ, instituição que ele freqüentou anos atrás. Fingindo-se passar por palestrante, ele teve livre acesso às dependências da escola, matando 12 estudantes e ferindo outros 12, nessa quinta feira sangrenta.
Wellington planejou detalhadamente a sua ação: esperou o momento mais apropriado; escolheu as salas em que ia promover a chacina; selecionou suas vítimas, priorizando matar as meninas e, de forma doentia, sorria enquanto sentenciava “você vai morrer”, disparando na cabeça e no peito das vítimas. O assassino espalhou pânico e terror, colocando a todos numa luta dramática pela sobrevivência, tentando escapar da mira dos tiros. Os detalhes dessa história, com todos os requintes de crueldade, nós todos sabemos de vez que a mídia faz questão de mostrar tudo e explorar o que, tristemente, dá mais ibope: a desgraça.
O que de fato aconteceu
Quem era Wellington? Qual o seu histórico enquanto estudante dessa escola? Segundo o relato de alguns ex-colegas, ele era um sujeito “quieto demais”, que falava baixinho e não conseguia olhar os outros nos olhos… Era um garoto sem amigos, rejeitado, que vivia isolado. Constantemente, era alvo de chacotas, apelidos e era caçoado, especialmente pelas meninas, sendo apelidado de Sherman (personagem bobalhão do filme American Pie) ou suingue porque mancava de uma perna e, ainda, chamado de feioso e esquisito. Era expulso do lugar em que estava sentado e, além disso, era ridicularizado por uma garota que o assediava e dizia em alto e bom som que era a fim dele, o que o fazia fugir apavorado. Ah, ele tinha um único amigo, que também era ridicularizado o tempo todo.
É, esse rapaz muito estranho, com certeza portador de uma patologia grave (delírio crônico? esquizofrenia paranoide? psicopatia?), foi vítima de bullying. Por isso, seus ex-colegas acreditam que ele não atirou a esmo e que tudo o que aconteceu foi uma vingança por ter sido alvo das piores chacotas e gozações e, por ser portador de uma patologia mental grave, arquitetou durante anos um plano violento, que não poderia ser executado contra as pessoas que o ridicularizavam, mas que seria na mesma escola, no mesmo turno e nas mesmas séries que ele freqüentara. E assim, inocentes que nada tinham a ver com a história, foram instrumentos de vingança de uma mente doentia, sendo barbaramente assassinados.
Marcas do medo
Infelizmente, episódios sangrentos como esse que aconteceu em Realengo vem se repetindo em outros países como Alemanha, Finlândia, Rússia, Estados Unidos e Reino Unido. E, em vários desses episódios, há a constância de que os assassinos, por serem considerados estranhos, esquisitos e diferentes, na verdade portadores de patologias mentais graves, foram vítimas de bullying.
Nesse momento, pais e familiares das vítimas de uma das maiores atrocidades acontecidas em nosso país, choram e sofrem a perda de seus filhos… e os demais estudantes que conseguiram escapar da mira do assassino sofrem as seqüelas emocionais graves de quem viveu essa história. Nesse momento, nossos filhos, espectadores desse cruel e triste fato nos perguntam o porquê de tudo isso e temem que um dia, um doente mental, possuído por delírios, também invada e sua escola e os matem. Quanto a nós, só nos resta rezar pelas vítimas e por suas famílias; explicar aos nossos filhos que tragédias são exceções e ensiná-los a respeitar as diferenças e a denunciar todos os atos discriminatórios que deixam cicatrizes profundas na alma e podem levar as pessoas a tentar se matar e a matar os outros. Os transtornos mentais nós não podemos impedir, apenas tratar, mas o bullying sim!