“Esquece o que aconteceu!”. Quantas vezes ouvimos essa frase ao longo da nossa vida, proferida por pessoas diferentes, com objetivos que oscilam entre obter o perdão por um delito cometido, nos proteger de algo que ao ser lembrado nos faz sofrer, como um julgamento sobre uma ocorrência ou fato, como uma critica por acharem que estamos dando importância demais a algo que não acrescenta valor à nossa vida, como um incentivo para nos desprendermos do passado, como um apelo tentando nos mostrar que a vida precisa seguir seu curso…
A forma como lembramos um episódio que aconteceu na vida é muito mais importante do que o fato acontecido; o que aconteceu é menos importante do que a nossa opinião sobre a situação. E, se algo findo ou ausente nos atormenta é sinal de que ainda estamos presos através da mágoa, da raiva ou de qualquer outro sentimento que nos atormente e nos vincule a alguém que, provavelmente, não merece ficar em nossa vida e, mesmo assim, permitimos que ele controle nosso pensar e sentir, perturbe nossa paz e roube nosso sono.
O ESQUECIMENTO NÃO EXISTE
Mas, o que aconteceria com a vida da gente, se esquecêssemos o passado? Muito provavelmente, viveríamos incorrendo sempre nos mesmos erros, pois perderíamos a oportunidade de aprender com as nossas mazelas e infortúnios. Os nossos erros, assim como os erros dos outros, nos ensinam a acertar e nos movimentam na vida. A dor pode ser um excelente motivo de aprendizado e a lembrança do que aconteceu pode ser referência de sabedoria. Como construir um amanhã mais produtivo e feliz se o ontem não pudesse servir de farol pra iluminar nosso caminho, nos mostrando as pedras, os buracos e as possibilidades de desvios?
De um modo geral, o tempo é um grande parceiro que nos ajuda a diminuir as dores da vida, mas o melhor remédio continua sendo ter atitude. Ser resiliente, levantar, sacodir a poeira e dar a volta por cima é ter atitude na vida. Não dá para mudar o que aconteceu, mas dá para encarar com novos olhos e tentar tirar uma lição da experiência, sempre procurando saber qual a nossa parte nesse enredo e qual a parte do outro; poder acolher com amor os nossos erros e olhar com esperança para o que vier. O que aconteceu já aconteceu, mas o futuro pode ser excitante.
COMPROMISSO COM A MUDANÇA
Aprender com os erros não significa ter que ficar lembrando sempre o que aconteceu muito menos ficar falando sobre o assunto tentando a todo custo se colocar no papel de vítima e transformando o outro em algoz; é sempre bom lembrar que a permanência do outro na nossa vida depende da nossa permissão e consentimento. O que é saudável lembrar é do aprendizado, do que ficou como exemplo de superação do que aconteceu. Lugar de passado é no passado! Perpetuar lembranças dolorosas é construir um enredo cruel para a história de nossa vida.
Sempre é tempo de recomeçar. Escolha ter lembranças boas em sua vida exercitando o verbo amar nos mais diversos tempos – amei, amo e amarei; também decida quem você quer preservar em suas lembranças, quem merece constar em suas memórias de amores amados; quem não mereceu o seu amor não merece ser lembrado. Deixe quieto! Afinal, como disse a maravilhosa poetisa Cecília Meireles “Há pessoas que nos falam e nem as escutamos; há pessoas que nos ferem e nem cicatrizes deixam. Mas há pessoas que simplesmente aparecem em nossa vida e nos marcam pra sempre”.