Eu costumo brincar com as pessoas que atendo no consultório dizendo que todos nós, sozinhos, somos as pessoas mais maravilhosas, interessantes e encantadoras do mundo e, só deixamos de sê-lo quando nos relacionamos com os outros. Nossas dificuldades e problemas, na maioria das vezes, surgem ou ficam evidenciadas nas relações que estabelecemos com as outras pessoas; nossa conduta costuma ser influenciada pelos julgamentos e ações dos outros, mas nunca responsabilidade deles e se, em algum momento ou circunstância, delegamos aos outros o poder de decidir sobre nossos atos e abrimos mão de nossa liberdade de escolha, provavelmente estamos muito inseguros sobre que rumos seguir ou precisamos ter alguém para responsabilizar por um possível insucesso.
Se você delega ao outro a responsabilidade por fazer as escolhas significativas da sua vida é hora de você repensar suas crenças e atitudes e tentar voltar a ser o centro de sua existência. É claro que somos influenciados pelas atitudes e pensamentos dos outros e que é absolutamente normal a gente pedir uma opinião e isso tudo e mais alguma coisa podem interferir em nossa decisão, mas, em qualquer circunstância a responsabilidade pela decisão é sempre nossa.
A ARTE DE CONVIVER
Conviver, dividir espaço, vida, decisões e afetos não são uma tarefa nada fácil, mesmo que isso ocorra com pessoas com quem escolhemos conviver e dividimos sonhos e afetos – pais, filhos, companheiros, amigos e irmãos. Agora, nem sempre temos a possibilidade de escolher as pessoas com quem queremos conviver, numa situação de tralho, por exemplo, podemos ser forçados a passar várias horas do dia com alguém que jamais escolheríamos para fazer parte por escolha pessoal e, por certo, isso pode se tornar um excelente aprendizado de vida.
Na verdade, dificilmente alguém com quem convivemos com freqüência, vai passar pela nossa vida sem causar em nós algum tipo de emoção, mesmo que sejam momentâneas. Por maior afinidade que existam entre nós, sempre serão pessoas diferentes, que pensam de forma diferente, que agem e vivem de acordo com seus desejos, interesses e possibilidades. E, mesmo a gente sabendo disso tudo, é comum apontarmos o dedo para o outro e tentar responsabilizá-los por algo que fizemos e que não deu certo, como na letra da música cantada pelos Titãs “O problema não é meu. O paraíso é para todos. O problema não sou eu. O inferno são os outros.”
SOMOS CONDENADOS A LIBERDADE
Os outros, quase sempre, nos mobilizam de alguma forma e despertam emoções em nós. Assim, a mesma pessoa, em momentos diferentes é capaz de estimular em nós sentimentos e sensações tão ambivalentes: nos irritam e nos acalmam; nos perturbam e nos aquietam; nos acusam e nos protegem; nos enganam e nos mostram a verdade; nos cobram e nos auxiliam; nos acolhem e nos rejeitam; nos amam e nos odeiam… E mesmo que, já não mobilizem mais coisas positivas em nós, a decisão de permanecer ao lado delas em última instância é nossa.
O maravilhoso filósofo Jean-Paul Sartre que nos premiou com a frase “o inferno são os outros” nos ensinou que muitas vezes o que nos incomoda nos outros tem a ver com o que tentamos fugir e não ver em nós mesmos e que sempre temos a nosso dispor o recurso da liberdade de escolher o que vamos fazer com o que fizeram com a gente. Enfim, tudo o que me encanta, enternece, irrita ou incomoda nos outras pessoas, pode me levar a me entender melhor e a viver de acordo com meus desejos e escolhas. Feliz vida pra todos nós!