Há muito tempo eu li uma historinha muito interessante numa revista, que dizia o seguinte: um homem tentava atravessar a fronteira dos Estados Unidos e México, numa bicicleta, fazendo muito esforço para equilibrar uma enorme caixa sob o guidão. Ele foi parado pelo fiscal da fronteira que mandou abrir a caixa e, depois de revirá-la toda, constatou que ali havia apenas areia e o liberou; o mesmo fato se repetiu diariamente, por meses, e toda vez o fiscal procurava em vão encontrar algo na caixa de areia que o homem transportava e não encontrava nada que pudesse caracterizar sua suspeita de contrabando.
Muitos anos depois, já aposentado, o fiscal encontrou o homem que transportava a caixa de areia numa loja e, movido pela curiosidade, aproxima-se dele e pergunta-lhe: “o que você transportava naquela caixa de areia, que eu nunca conseguiu descobrir, embora eu tivesse a certeza que você estava contrabandeando algo?” O homem hesitou um pouco em falar, mas por fim respondeu que não havia nada de diferente ou errado na caixa de areia, o que ele contrabandeava eram as bicicletas. Na verdade, o fiscal vasculhava o que lhe parecia óbvio, a caixa de areia, enquanto que a bicicleta lhe era totalmente ignorada.
A REPETIÇÃO DA MESMICE
Como o fiscal da fronteira, quantas vezes você não ficou preso a uma caixa de areia que metaforicamente representa as ideias repetitivas, as mesmas condutas e padrões de escolha, enfim a mesmice, enquanto as bicicletas passam e você sequer percebe? É certo que as pessoas têm tendência a repetir o que aprenderam com as experiências ao longo da vida, mesmo com as que não lhes foram benéficas ou favoráveis, por isso incorrem nos mesmos erros e repetem as mesmas desculpas tentando justificar as suas falhas; na verdade sabotam-se e promovem o autoengano!
O dia em que você se dispuser a olhar para a sua vida com novos olhos, provavelmente vai descobrir coisas interessantes, que muitas vezes aconteciam bem próximas a você, mas não lhe despertavam a mínima atenção porque o seu olhar estava direcionado sempre aos mesmos lugares. Novas ideias e novas posturas fazem o caminhar de qualquer um de nós inundar-se de cores, brilhos, sons, cheiros e texturas. A vida acontece nos detalhes e nos movimentos, porém é o inesperado que garante a emoção de uma vida com paixão.
SEJA CRIATIVO
As coisas boas e produtivas que acontecem em nossas vidas devem ser preservadas e cultivadas, mas o que provoca dor, sofrimento e tédio precisam ser substituídos pela possibilidade do novo. Uma vida sem nada inesperado e sem surpresas cansa e desanima pela mesmice; os ganhos na vida da gente são proporcionais aos riscos que a gente corre, portanto quem não corre riscos não consegue sair do lugar em que se encontra. Saia da sua zona de conforto, desafie-se e viva experiências novas.
Exercite a flexibilidade cognitiva e deixe os pensamentos trafegarem pela sua alma sem censura e preconceito, levando-o por novos caminhos, subvertendo o tempo e o espaço, isso torna a vida mais lúdica, leve e alegre. A decisão é sua! Você pode continuar procurando por algo que não existe em sua “caixa de areia” ou vai prestar atenção “as bicicletas” que cruzam o seu caminho e atravessam fronteiras? A vida, esse espaço em movimento, acontece no aqui e agora e o responsável pela sua felicidade e prazer é você mesmo.
Pegando carona nos ensinamentos da escritora francesa Simone de Beauvoir, o que eu desejo para mim e para você é “Que nada nos limite. Que nada nos defina. Que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância.” Feliz vida para todos nós!