Uma das grandes preocupações dos pais, especialmente das mães, é quanto à alimentação dos filhos, e esta preocupação vira desespero se a criança é muito seletiva quanto à aceitação dos alimentos ou se recusa a comer. A hora das refeições, que em tese deve ser uma hora de prazer e alegria, pode virar um verdadeiro campo de batalha em que a mãe tenta fazer a criança comer a todo custo – vai do pedido ao grito e a ameaça em questão de segundos-, e a criança nem toca na comida, pois já se sente alimentado com a atenção da mãe.
A vinculação da mãe com o seu bebê se intensifica muito com a amamentação, pois muito mais do que saciar a fome e nutri-lo, no ato de amamentar ocorre uma troca imensa de carinho, de cuidado, de afeto. Não existe momento mais terno e mágico do que este, em que o corpo da mãe e do bebê voltam a se fundir, consolidando ainda mais um amor que a própria natureza sabiamente uniu. Desta forma, o seio funciona como garantia de vida e, quando a criança recusa o seio a mãe se sente culpada, como se estivesse negando vida ao seu filho.
Então, desde bebê as crianças aprendem a estabelecer uma comunicação com suas mães por meio da amamentação. Mais tarde, em torno dos 2 ou 3 anos, a criança percebe o valor que a mãe dá a alimentação e pode tentar controlá-la (chantagem emocional) recusando-se a se alimentar ou só comendo besteiras e fora do horário das refeições, garantindo com isso que a mãe fique focada nela. A partir daí a mãe se desespera, tenta fazer acordos, promete recompensas, briga, castiga e a criança passa a ter o controle da situação. Chantagem é uma forma de controle!
A primeira referência alimentar da criança vem da família, mais tarde, ao ingressar na escola, ela passa a ter outras referências com os coleguinhas através dos lanches que eles levam para merendar. Porém, o que os pais comem serve de exemplo para as crianças – se os pais não comem legumes e verduras como podem cobrar que os filhos comam? Ao ver os pais comendo brócolis, aumentam as chances deles também gostarem de brócolis, assim como a mãe que cata as cebolas do prato está incentivando as filhas a também catarem as cebolas.
É preciso deixar claro que as crianças, assim como nós, têm o direito de ter suas preferências e suas rejeições com relação à alimentação. O que elas comem tem muito a ver com a oferta de alimentação que elas dispõem e com as regras que forem definidas em casa (há coisas que elas podem comer todos os dias e outras só de vez em quando) – se a regra for na hora do almoço deve-se comer comida, não ofereça um sanduiche ao seu filho no caso dele ter rejeitado o alimento do almoço. Ah! Também não compre e nem leve para casa coisas que você não quer que seu filho coma.
Se o seu filho não está se alimentando de uma forma que atenda as suas expectativas, só se preocupe se ele não estiver conseguindo suprir as necessidades nutricionais dele. Em qualquer circunstância não transformem o horário das refeições num campo de guerra e nem se sintam culpados achando que vocês falharam como pais se suas crias apresentarem muita dificuldade em se alimentar.
Fiquem atentos, funcionem com tranquilidade e não caiam na chantagem de seus filhos. Negociem o que eles podem comer dentro das opções que vocês considerem saudáveis tendo a certeza de que para eles não comerem pode ser um exercício de independência, de autonomia mas também uma forma de chamar atenção. Respeitem as preferências deles, mas insistam no oferecimento de novos alimentos. Se esta dificuldade se transformar em um problema, procure ajuda especializada.