Se alguma vez você já percebeu alguém apresentar um comportamento estranho e repetitivo, tipo piscar os olhos; franzir a testa ou as sobrancelhas; repuxar o pescoço; enrolar o cabelo no dedo; tremelicar as pernas e as mãos; passar a mão no nariz; fazer caretas; emitir grunidos; coçar a garganta; bater em si mesmo… ou qualquer outro tique nervoso, você pode até ter achado engraçado mas, saiba que para o portador do tique a situação é de constrangimento e vergonha pois, torna-se o centro das atenções e constantemente é alvo de brincadeiras e chacotas.
Tiques nervosos são movimentos ou vocalizações involuntárias, que ocorrem subitamente e se repetem de forma exagerada num padrão de tempo variado. Normalmente são desencadeados em momentos de estresse, tensão, ansiedade, excitação, forte emoção, eventos traumáticos… Sua incidência maior é durante a infância e adolescência; é mais comum em meninos do que em meninas e costumam desaparecer em poucos meses. Cerca de 10% das crianças em idade escolar têm tiques transitórios em função de dificuldade de adaptação social.
ANSIEDADE: COMBUSTÍVEL DOS TIQUES
Para algumas pessoas não é nada fácil lidar com as tensões do mundo globalizado. As circunstâncias do dia-a-dia, tornam-na ansiosas, estressadas e passam a ter tique nervoso, como uma descarga involuntária de energia em resposta a uma pressão crescente, com a qual não sabem lidar. A música Tique tique nervoso, do grupo Magazine, retrata bem essa situação “Estou preso no trânsito com pouca gasolina, o calor tá de rachar e lá fora é só buzina. Perdi o meu emprego, que já era mixaria e “onti” fui assaltado em plena luz do dia. Isso me dá tique tique nervoso…”
A ansiedade funciona como combustível dos tiques e o estresse sempre exacerba qualquer sintoma, portanto, fique muito atenta à criança, quando ela apresenta tique nervoso, sejam motores ou vocais. Eles até podem mudar de forma (antes piscava os olhos, agora coça a cabeça) podem vir associados com gagueira, sonambulismo… mas não podem ultrapassar o prazo de validade (máximo 1 ano), senão vira crônico. Se é agoniante para quem vê, imagine para o portador que nem se dá conta de que está piscando os olhos naquele momento a não ser pela reação dos outros de espanto, gozação ou piada
NÃO APRESSE A VIDA
É comum o aparecimento de tiques durante períodos difíceis da vida da criança (morte na família, separação dos pais, mudança de escola…) e são conseqüência de alguma reação emocional que ela não soube expressar. Não é brigando e nem recriminando que você vai ajudar o seu filho a resolver o problema( os tiques só pioram em situações de estresse ) e sim conversando e dando apoio: procure saber do seu dia-a-dia, converse sobre a escola (que dificuldades está encontrando, se gosta da professora…), verifique se ela está sendo motivo de piadas e brincadeiras por parte dos amiguinhos( as crianças podem ser muito cruéis, tiram sarro mesmo). Explique-lhe que isso não é uma doença e sim uma reação emocional diante das dificuldades e que irá desaparecer.
Se persistirem por mais de um ano, aparecerem em idade precoce (menos de 6 anos) ou ficarem mais fortes, pode ser sinal de algo mais sério, como doenças do sistema nervoso ou algum transtorno emocional – neste caso procure ajuda especializada, pois deixa de ser apenas expressão física de uma tensão vivenciada. Em qualquer circunstância, compreensão e carinho são imprescindíveis para que crianças e adultos lidem com o estresse, sem apressar a vida.