Em nossa cultura ocidental existe um estereótipo social de desqualificação com relação às sogras. No imaginário popular, elas são retratadas de forma caricatural e pejorativa, sendo sempre alvo de gozações e piadas. Sua figura é associada a de uma cobra, sempre destilando veneno e pronta para dar o bote. Até nos pára-choques dos caminhões, elas são motivo de chacotas: “sogra boa é a que já morreu”; “sogra não é parente. É castigo”; “Feliz foi Adão, que não teve sogra e nem caminhão…” Quanta injustiça!
Um de vocês, que está lendo este artigo, pode estar pensando: você está falando isso porque não conhece a minha sogra!Tudo bem, existem sogras e sogras. Claro que existem as problemáticas, que julgam que seu filho(a) é bom demais para qualquer pessoa; dão palpite em tudo; adoram se meter na vida do casal e na educação dos netos; criticam os parceiros(as) dos filhos na frente de todo mundo e, pra completar, adoram elogiar os ex-namorados(as) dos filhos na presença dos(as) atuais, para provocar cisânia. Parece que elas se esquecem que estão colocando em risco a felicidade do(a) filho(a).
DISPUTANDO O AMOR
Na verdade, o problema maior se dá na relação entre as mulheres (sogra x nora). O sogro não tem a mesma má fama e é mais difícil haver conflitos da sogra com o genro. Mesmo que ele apronte muito com sua filha e a esteja fazendo profundamente infeliz, é mais provável ela conversar baixinho com a filha do que bater de frente com o genro. Há um ditado popular que diz “quem casa uma filha, ganha um filho. Quem casa um filho, perde um filho” e no fundo o medo de perder seu filho para uma outra mulher, faz com que a disputa se instale, mesmo sendo amores diferentes: o da mãe é maternal e da namorada/esposa é erótico.
Por certo, a relação entre as duas mulheres é influenciada pelo vínculo que tiveram com suas respectivas mães e, no caso da sogra, se na relação com o filho, conseguiu elaborar e solidificar seu vínculo maternal. Em caso positivo, entenderá a necessidade que ele tem de estabelecer outros vínculos femininos; não verá a nora como alguém que quer lhe roubar o amor do seu filho; respeitará sua escolha e permitirá que uma nova estrutura familiar surja, sem que se sinta ameaçada no seu amor e sua liderança… Tudo igual ao que já aconteceu com ela um dia.
NEM MEGERAS NEM SANTAS
A maneira preconceituosa como é vista a relação com a sogra pode interferir em todo sistema familiar e trazer problemas para o novo casal. Embora cada um de nós tenha um sistema de valores e uma cultura familiar própria, quando nossos filhos casam, todos passarão a pertencer a uma mesma família. É bom que a nora lembre que, não fosse pela sua sogra, o seu amado não existiria para sua alegria e felicidade. Por outro lado, é também importante a sogra lembrar-se que cumpriu seu papel de mãe, já criou o filho e agora deve deixá-lo ir formar sua nova família, passando a ocupar-se com as coisas da sua própria vida, envolvendo-se mais com seu marido, sua casa…
O maior desejo de uma boa mãe é que seus filhos sejam felizes com seus parceiros e que construam uma história de amor e felicidade. Devemos, sim, dar as boas vindas a esses parceiros em nossas vidas e estabelecer com eles vínculos maduros, onde o respeito mútuo, a compreensão, o afeto e a ternura se façam presentes. Sogras não são megeras nem santas. São mães e que podem acolher os novos membros da família como filhos, pois serão pais/mães de seus netos… Como eu tenho duas filhas (Cacau e Clarinha), não disputarei amor com ninguém e, se depender de mim, meus genros serão “assogralhados”.