Com uma frequência considerável, os adolescentes com quem eu convivo e atendo, me contam da dificuldade que eles têm em falar, fazer um comentário e emitir uma opinião, principalmente, na presença de pessoas com quem eles não têm convivência e intimidade. Eles travam! O medo de falar algo errado ou que os outros considerem uma besteira é torturante; eles ensaiam mentalmente o que vão falar, mas, a falta de confiança em si mesmos e nos outros faz com que eles fiquem calados, se isolem e muitas vezes acabam passando para os outros uma imagem equivocada de que são arrogantes e esnobes.
Na realidade, eles são inseguros, têm baixa autoestima, sentem-se desprovidos de qualidades e apresentam enormes dificuldades em lidar com a possibilidade de fracasso. Desejam muito ser reconhecidos pelos outros, mas o receio de que não sejam suficientemente interessantes para merecer a atenção e a aprovação de alguém faz com que “a sombra e o silêncio” os protejam de tamanha ameaça. Consideram que os outros são “muito” (embora a maioria nem seja), enquanto que eles são “pouco” e, portanto, não possuidores das qualidades que imaginam que os outros desejariam que eles tivessem.
E assim, as pessoas “envergonhadas” vivem uma situação bem paradoxal, não querem ser notadas (isso é muito ameaçador para elas) e querem ser notadas (ser aceitas e valorizadas pelos outros é um desejo imenso). Nessa luta de conflitos internos, o medo de se expor, de ser rejeitado e ignorado pelos outros vence quase sempre e, por isso, é comum eles recuarem diante das possibilidades de interação, resistem à inclusão de outras pessoas nas suas vidas, funcionam na defensiva, não se arriscam em agir, o que os mantém em uma postura acomodada e imobilista; enquanto isso, a vida segue sem que possibilidades sejam avaliadas e as mudanças ocorram.
Mas, o que leva uma pessoa a ser tão retraída, envergonhada e temerosa? Com certeza um conjunto de fatores, e isso inclui características de personalidade e fatores ambientais, porém, mais precisamente, a forma como foram criados tem uma influência fundamental de como vão funcionar na vida. Assim, os filhos de pais superprotetores têm mais chance de se tornarem adultos retraídos e dependentes uma vez que a autonomia, o incentivo e a liberdade são essenciais para alguém aprender coisas novas, ousar e se arriscar na vida. A família é referência primária de amor e aceitação, portanto não existe lugar melhor para aprender a tentar e se não conseguir, ser mais facilmente acolhido e incentivado a não desistir.
Para que ocorra uma mudança de atitude, em qualquer esfera da vida, é preciso haver uma mudança de crença e uma perspectiva de que valores podem ser agregados com essa nova conduta. Então, é necessário a pessoa se convencer de que ela não é o centro das atenções, que não é o alvo de todos os olhares e de que é impossível se prever ou controlar pensamentos e ações de outra pessoa, assim como também os efeitos das ações originadas por nós; também é essencial se modificar as crenças acerca de nós mesmos e dos outros.
O mais importante na vida são os valores morais, éticos e o caráter, e não as características de personalidade. Porém, se a vergonha ou a timidez estiverem impedindo-o de se relacionar com os outros, resolver problemas e estiver provocando sofrimento, busque ajuda especializada para que você possa perder o medo, aprender a sentir-se mais confiante e seguro, romper o imobilismo, ampliar as suas possibilidades na vida, atingir seus objetivos e realizar sonhos.