Mais um Natal está chegando e trazendo com ele a promessa de celebrar o perdão, o amor ao próximo e a generosidade solidária, embora para alguns represente principalmente a oportunidade para um consumismo exacerbado. Em qualquer circunstância, neste período, as pessoas procuram estar juntas e confraternizar, sem que isso necessariamente seja um ato de fraternidade compulsória. O melhor do Natal é a possibilidade de encontrar parentes e amigos e fazer deste momento uma reafirmação de amor, de acolhimento e de pertencimento a um grupo – mais um ano se passou e estamos aqui, mais uma vez, envolvidos por laços de afeto e amizade. É através da vinculação amorosa com os outros que podemos viver a felicidade. “É impossível ser feliz sozinho”.
Neste dezembro eu resolvi fazer uma pesquisa informal com alguns adolescentes e, já que faz parte da tradição dar e receber presentes nesse período, eu lhes perguntei o que eles escolheriam acrescentar como um presente na vida deles, algo que não fosse um bem material e que fizesse a diferença no sentido de os melhorar ou melhorar a vida deles? A resposta deles me surpreendeu: gostariam de ter mais responsabilidade (dever); ser mais autoconfiantes (desejo) e ter mais motivação para estudar (dever). Interessante perceber que eles introjetam um desejo do mundo adulto, um discurso dos pais. E nós, que muitas vezes pensamos que eles não dão tanta importância às nossas cobranças.
COMO NOSSOS PAIS
Continuei minha pesquisa: o que eles gostariam que suas famílias pudessem receber como um presente? Eles gostariam que houvesse mais união, mais paciência dos pais com eles e deles com os pais e mais felicidade.
Viver bem é aprender a administrar, com tranqüilidade, as circunstâncias da vida. É sintomático que eles considerem e reconheçam a falta de paciência, de tolerância para com o outro. Se o Natal e o final de ano propiciam a reflexão, o repensar a vida, que tal pararmos para refletir sobre o quanto temos sido rigorosos no julgamento dos outros e, às vezes, de nós mesmos; o quanto temos dificuldades em lidar e aceitar as diferenças e, mais ainda, o quanto cobramos de nossos filhos que eles pensem igual a nós e que ajam de acordo com as nossas expectativas. Os nossos filhos vêem, no exercício da paciência, um caminho para a união e a felicidade. Eles têm total razão.
O OUTRO COMO O POSSÍVEL DE NÓS MESMOS
Além de presentear as pessoas que amamos, que tal inventarmos outras maneiras de celebrar o Natal? Vamos perguntar as pessoas que estão a nossa volta, especialmente os filhos, o que podemos fazer para que eles se sintam mais valorizados e mais amados? O que precisaria acontecer na vida deles para que eles se sintam mais autoconfiantes? Que atitudes contribuiriam para que houvesse mais união na família? O que os deixaria mais felizes?
O desejo de todos nós é o de ser feliz. A felicidade não é algo que se consegue e se mantém pra sempre. É uma construção do dia-a-dia e que passa, necessariamente, pelo compartilhar; pela troca de afetos; pelo aprendizado de resignificar a vida; pela valorização de nós mesmos e dos outros; pelo saber ouvir; pela generosidade solidária; pelo exercício da paciência e da tolerância; pelo respeito a opiniões diferentes das nossas; pela intimidade no caminhar; pela capacidade de sonhar; pela busca do prazer; pelas pedras que removemos e pelas flores que plantamos; pelos riscos que corremos; pelo amor e a verdade e, principalmente pelo olhar o outro como o possível de nós mesmos. Um Natal repleto de paz, alegria e amor para todos nós!