Com frequência, recebo em meu consultório crianças e adolescentes encaminhados pelas escolas por apresentarem problemas de conduta e de aprendizagem e, consequentemente, com baixo rendimento escolar. Várias vezes, eles já chegam a mim com o rótulo de que são preguiçosos, bagunceiros e não querem nada com o estudo. A minha primeira fala é sempre a mesma: “Eu não sei se é isso, talvez não, mas vamos avaliar e ver o que está realmente acontecendo” e, depois das sessões de avaliação, pode ser que a conclusão seja a de que aquele “aluno problema” é na verdade portador do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade.
Normalmente, os primeiros sintomas são percebidos na escola. As exigências escolares vão aumentando e as crianças começam a revelar: falta de atenção, dificuldades organizacionais, iniciam e não conseguem concluir suas tarefas escolares, distraem-se facilmente com qualquer coisa, apresentam muita dificuldade em acompanhar as instruções longas, perdem coisas o tempo todo, não acompanham o ritmo de aprendizado da turma e parecem que estão sempre com a cabeça nas nuvens. E se a criança for hiperativa, a situação fica ainda pior porque ela atrapalha a aula por falar demais, não para quieta, perturba os colegas, não se concentra nas brincadeiras, não respeita limites, é teimosa, agressiva e agitada.
Em razão disso tudo, a criança com TDAH acaba sendo rejeitada pelos colegas que se afastam de seu convívio; as professoras têm muita dificuldade em fazê-las respeitar comandos e ordens e os pais, quando são chamados à escola para conversar a respeito do seu filho, já chegam desanimados, haja vista que a conduta da criança em casa não é muito diferente da apresentada na escola – fazer o dever de casa com o filho é difícil porque ele não para quieto, cai da cadeira, derruba a borracha no chão, se levanta para fazer xixi, para tomar água…
Todas essas situações são muito difíceis para as crianças, pais e professores. Os pais costumam ter muita dificuldade em entender como que seu filho é capaz de ficar quieto e concentrado jogando videogame e não consegue se concentrar na aula. Acontece que o nosso cérebro é facilmente estimulado a trabalhar nas coisas que sejam do nosso interesse e sendo assim, as crianças com TDAH apresentam dificuldade em manter a atenção em atividades de baixa e média motivação, e a escola é uma delas. Em atividades para as quais se sentem muito motivadas, como videogames e jogos de computador, elas são capazes de passar muito tempo concentradas.
Então, não se trata de prestar atenção apenas no que querem, mas que só conseguem superar suas dificuldades e deficiências se estiverem muito motivadas. Trata-se de funcionamento cerebral, não tem nada a ver com inteligência ou preguiça, e precisa de tratamento especializado para superar as dificuldades provocadas pelo transtorno, e que podem ser imensas.
Não só pela possibilidade da criança ter TDAH, mas em qualquer circunstância, os pais deveriam pensar bastante antes de usar palavras que desqualifiquem e rotulem seus filhos com coisas negativas, pois o reflexo das palavras usadas e repetidas por eles, especialmente com as crianças, podem ter efeitos devastadores, pois elas acreditam e internalizam como verdade o que eles falam; como se elas recebessem um carimbo na alma. Além disso, elas sofrem por acreditar que não merecem ser amadas por seus pais, pois não conseguiram corresponder às expectativas depositadas neles. Pense nisso!