É TUDO OU NADA!

 

Em meus artigos, com frequência, abordo temas que fazem parte da minha experiência clínica e que tenham uma incidência relevante. Minha intenção em escrever sobre transtornos psiquiátricos é o de que as pessoas tomem consciência acerca das doenças emocionais que estão cada vez mais presentes e perto de todos. Se alguém se identificar com o artigo ou identificar alguém próximo (eu tenho o retorno de que isso já aconteceu algumas vezes), este pode ser um gatilho para que procurem ajuda especializada e consigam mudar o curso de suas vidas.

Então, hoje eu quero falar das pessoas que: são excessivamente impulsivas; intolerantes; inconstantes; se incomodam com tudo; estão sempre reclamando; são explosivas e agressivas; apresentam uma imensa instabilidade emocional; não toleram frustrações e são extremamente manipuladoras. Estas pessoas vivem no limite de suas emoções, demonstram uma insatisfação pessoal constante, são muito exageradas e, por tudo isso, criam sérios problemas por onde andam. Eu estou falando de pessoas portadoras do Transtorno de Personalidade Borderline, uma doença que atinge 2% da população, com uma incidência muito maior em mulheres (75%).

O termo Borderline, que em inglês significa fronteiriço, limite, retrata muito bem o funcionamento dessas pessoas, pois elas vivem no limite entre a loucura e a razão. Elas nunca passam despercebidas, sua exuberância, exagero nas condutas e inconstância são marcantes – conseguem mudar de opinião, de planos e até de identidade sexual com uma rapidez de impressionar qualquer pessoa; elas também mudam rapidamente de opinião sobre as outras pessoas, numa hora gostam muito e noutra têm muita raiva. Mas tudo é sempre MUITO.

É muito difícil a convivência com pessoas Border, pois elas além de apresentarem mudanças de humor extremas, são insaciáveis em termos de atenção, o que demonstra um apelo imenso pelo afeto. Precisam e desejam muito amar e serem amada, e mesmo que estejam se relacionando com alguém, nada que o outro faça é suficiente para apagar a sua fantasia de que ele está pensando em abandoná-la, por acreditar nisso, ela perturba tanto o parceiro com acusações e cobranças, o agride e o ofende de tal maneira que ele não aguenta e termina o relacionamento. Tudo o que ela queria era receber muita atenção e amor, mas como não tem uma “pele emocional” e não consegue dominar suas emoções, ela mesma constrói o caminho para o abandono.

Para tentar suportar uma dor interna proveniente de sentimentos crônicos de vazio, pela vivência de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos, com ameaças de separação e rejeição e pela frustração de expectativas não realizadas, as pessoas borderlines costumam apresentar comportamentos automutilantes (se cortam, se queimam) e ameaçam suicídio. Atitudes extremas fazem parte do seu repertório de condutas num esforço exacerbado para demonstrar ao outro e ao mundo o seu desespero e tentar evitar a dor e o abandono.

A tendência é a de que na faixa etária dos 30 aos 40 anos, muitas pessoas que apresentam este transtorno consigam adquirir mais estabilidade em seus relacionamentos e na sua vida profissional, mas não dá para ficar esperando que o passar dos anos traga a tão necessária maturidade e estabilidade emocional. Até lá, o vício do jogo, do álcool e outras drogas também fez seu estrago. Não espere, procure ajuda especializada para tratar da sua instabilidade emocional e melhorar seus relacionamentos interpessoais, sua autoimagem e a expressão dos seus afetos.

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