No dia dois de abril (domingo passado), em várias partes do mundo as luzes estavam na cor azul, em homenagem às comemorações do Dia Mundial da Conscientização do Autismo. Esta data foi criada pela ONU com o objetivo de conscientizar a população mundial acerca do autismo, um Transtorno do desenvolvimento do cérebro que afeta cerca de 70 milhões de pessoas em todo o mundo e no Brasil atinge mais de 2 milhões de pessoas. Esta condição se desenvolve de forma única para cada pessoa e sua incidência é de 3 ou 4 vezes maior em meninos do que em meninas.
O Autismo pertence a um grupo de doenças do desenvolvimento cerebral, conhecido como “Transtornos de Espectro Autista – TEA” onde os sintomas mais presentes são a dificuldade de interação social e de comunicação, a presença de comportamentos repetitivos e a necessidade de manter uma rotina. A dificuldade de socialização compromete a capacidade da criança de se relacionar com o mundo a sua volta; na verdade, ela tem dificuldade em entender o mundo tal como ele é, por isso elas se isolam e vivem em outro mundo onde os objetos tendem a ser mais importantes do que as pessoas.
O excesso de estimulação sensorial atropela os pensamentos dos portadores de TEA. As informações sensoriais chegam rápidas demais e não há tempo suficiente para processá-las, e para fugir desse turbilhão de informações em que não consegue ter a percepção e o entendimento do todo, a criança se desconecta para fugir dos estímulos opressivos, se isola, não dá atenção aos estímulos sociais e evita o contato físico. Como eles têm dificuldades em expressar desejos, sensações e sentimentos, entender o que se passa na cabecinha deles não é uma tarefa fácil.
Com certeza, a vida com um filho autista não é nada tranquila e serena. Tomo emprestadas as palavras da mãe de um príncipe de sorriso lindo, Yasser, e que traduzem essa realidade; então “… o que está faltando na verdade, é a disponibilidade para entender esse mundo azul cheio de especificidades que precisam ser compreendidas, já que nem toda birra é tolice, nem toda mordida é agressão, nem todo silêncio é indiferença, nem todo choro é tristeza, nem tudo é o que parece ser. Entendê-los, interpretá-los, dá trabalho, exige estudo, entrega, paciência, resiliência e, acima de tudo, amor”.
Mas, criar um filho que tem sérias dificuldades para se adaptar a vida social poderia ser menos difícil se os pais não tivessem que lidar com o preconceito. Infelizmente, ainda hoje, muitos pais de crianças neurotípcas (nomeadas de “normais”) olham para as crianças portadoras do Transtorno de Espectro Autista de forma estranha, ironizam suas condutas fora dos padrões, se referem a elas de forma desrespeitosa e com isso incentivam os seus filhos a manterem uma conduta preconceituosa, distante e até mesmo hostil. Lutar pela aceitação do diferente deve ser uma tarefa de todos nós, que nos reconhecemos como seres humanos!
E, como bem diz a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa, “Para estabelecer relações verdadeiras com crianças com Autismo temos que nos despir de todas as certezas do nosso mundinho confortável de conhecimento e permitir que elas nos ensinem um pouco de sua própria linguagem e de seus universos tão especiais”. Assim, a partir da compreensão das diferenças e nos colocando como aprendizes desse mundo azul, poderemos acolher amorosamente e valorizar as habilidades diferenciadas de pessoas muito especiais e que enxergam o mundo de uma forma totalmente diferente da nossa.