Dormindo com o inimigo

                               A Lei Maria da Penha (Lei nº11.340, de 07 de agosto de 2006) criou mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher e fez cair as estatísticas dessa barbárie em nosso país. Infelizmente, entretanto, os índices das agressões contra as mulheres continuam sendo uma vergonha nacional: anualmente mais de um milhão de mulheres são vitimas de violência; uma mulher é assassinada a cada 2 horas e, a cada dia, 73 mulheres são violentadas. Nesse exato momento em que você está lendo meu artigo muitas mulheres estão sendo espancadas, violentadas e assassinadas no Brasil.

Na maioria das vezes essas agressões ocorrem dentro da própria casa e o agressor é o marido ou  ex-parceiro, sendo os homens da própria família ou próximos que espancam, estupram e matam.  O mais triste é que isso tudo ocorre porque muitas mulheres aceitam conviver com a brutalidade masculina,  já que para haver um agressor é preciso haver um agredido. As delegacias das mulheres recebem muitas queixas de agressões físicas, mas também recebem muitas retiradas de queixas e assim a  impunidade faz com que a violência se perpetue.

Cultura do desrespeito a mulher

                               A violência contra a mulher ocorre em todas as classes sociais. Vivemos a cultura do desrespeito. Esse padrão de comportamento do agressor faz parte da cultura do machismo em que o homem se acha no direito de tratar grosseiramente, desqualificar, humilhar e agredir a “sua” namorada ou mulher, principalmente se ela resolve por fim a relação, momento em que, movido por ciúme e rejeição, esse homem é capaz de cometer atrocidades chagando, inclusive, a casos de morte.

Por que muitas mulheres não denunciam? Na verdade, elas se calam por medo, vergonha, e dependência. Até porque, depois acontece o arrependimento (muitas vezes apenas momentâneo) do agressor que chora, pede desculpas, diz que a ama…que isso não vai mais ocorrer e ela acredita. Assim como também acredita que ele não seria capaz de matá-la. Quando a violência se instala entre o casal, se estabelece um jogo sadomasoquista em que agressor e agredido mantém a violência presente entre eles e essa conduta agressiva aparece já na fase do namoro, onde movido por ciúme (doentio, claro!), além das ofensas,  beliscões, tapas e empurrões já aconteceram. Se isso acontece em seu namoro, saia dessa situação, saiba que a violência só tende a piorar com o passar o tempo.

A violência não é repentina

                               Ninguém fica violento da noite para o dia. Antes de agredir fisicamente, o agressor dá sinais de falta de caráter e má conduta nas pequenas coisas do cotidiano. Normalmente, começa criticando, desqualificando, proibindo, ditando regras, monitorando o dia-a-dia da parceira, evoluindo (ou melhor, “involuindo”) do controle excessivo para as agressões físicas. A mulher vai permitindo,  aceitando e se fragilizando,  até que a vergonha, o medo e o isolamento se instalam em sua vida.

Embora a constituição proíba a discriminação contra a mulher e a Lei Maria da Penha represente um avanço considerável na luta contra a violência doméstica, isso não garante que ela não ocorra. A violência contra a mulher ainda tem fortes características culturais e as mulheres referendam esse padrão de comportamento ao não denunciar o agressor. Nunca aceite a violência de seu parceiro e de ninguém. Fique atenta à conduta da pessoa que está dividindo a vida com você. Se você foi ou está sendo agredida, denuncie. Recupere a sua auto-estima e dignidade.

Nós todos, homens e mulheres, devemos nos empenhar na luta contra a violência doméstica. Vamos educar nossas filhas orientando-as para que elas jamais aceitem ser agredidas e vamos educar nossos filhos ensinando-os a respeitarem as mulheres. Vamos denunciar os agressores e ajudar a socorrer as vitimas.

Um domingo de paz a todos!

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