DISTANTE DO MUNDO E DE SI MESMO

As pessoas estão vivendo mais, a população de idosos está crescendo no mundo e, sendo assim, o envelhecimento vai nos fazer conviver mais com os transtornos mentais dos idosos e as demências. Existem dezenas de formas de demência, porém o Alzheimer é a mais frequente, e a mais conhecida – cerca de 50%. Já virou motivo de piada associar esquecimento a doença de Alzheimer, mas o assunto é muito sério. Trata-se de uma doença neurodegenerativa das mais graves e costuma acometer pessoas com mais de 65 anos, sendo, portanto, uma doença típica da velhice.

Com o avançar dos anos, não lembrar onde deixou os óculos, o celular ou outro objeto costuma ser normal e isso caracteriza mais um lapso de atenção do que de memória. Mas é fato que a memória envelhece, perde um pouco o vigor e esquecer coisas acessórias é natural se a pessoa não fica disfuncional; o perigo passa a aparecer quando os esquecimentos passam a impactar na vida do idoso, provocando disfunção e incapacitação para as tarefas que ele fazia facilmente antes.

 A doença de Alzheimer é um processo contínuo que se caracteriza pela perda de funções cognitivas e alterações comportamentais como: perda gradual de memória (esquecem acontecimentos recentes, mas conseguem manter intactas as lembranças do passado); dificuldade acentuada em realizar tarefas rotineiras e compreender informações; desorientação com relação a tempo e espaço; mudanças de comportamento e de humor; colocação de objetos em locais inapropriados e esquecimento dos cuidados com a própria higiene… A pessoa com Alzheimer desconecta-se da realidade e, na fase mais severa, fica totalmente alienada do mundo: não fala, não se comunica e nem conhece os familiares (o que não significa desqualificação da relação amorosa construída ao longo da vida, mas sua incapacidade de pensar, de reter informações e de compreender a realidade).

O aparecimento da doença de Alzheimer antes dos 60 anos não é comum, mas quando ocorre, costuma ser mais célere e tem mais 50% de chance de ser transmitida aos seus descendentes. O mais usual é quando acontece de forma esporádica, depois dos 65 anos e sua ocorrência e evolução vão depender muito do determinismo genético, da forma como se envelheceu e dos cuidados que se teve com o cérebro e com o corpo ao longo da vida.

 Os dados de crescimento da doença são alarmantes: cerca de 50 milhões de pessoas em todo mundo sofrem desse mal; no Brasil cerca de 1,2 milhão de pessoas vivem com alguma forma de demência. Não existe uma maneira de evitar que o Alzheimer ocorra, mas sabe-se que as pessoas altamente escolarizadas, que usaram o cérebro de forma intensa, criativa e diversificada conseguem tolerar mais a carga da doença. Sabe-se também que a escolaridade, o hábito de leitura, aprender outro idioma ou qualquer atividade que estimule o cérebro tem mais efeito se acontecer na idade certa do que em idade tardia.

 A família vive um luto diário ao perder o vínculo com o doente, cada dia mais distante do mundo e de si mesmo. Por isso, o cuidador precisa se cuidar para não adoecer também. A família precisa dividir os cuidados com o idoso para que o trabalho não fique centralizado em uma única pessoa, permitindo, assim, que todos possam viver suas rotinas de vida e serem um suporte emocional para cuidar de quem já cuidou tanto da família e que, hoje, depende totalmente dos outros para continuar vivendo.

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