CONFIAR EM QUEM?

 

A fragilidade da vida é diariamente testada pelas circunstâncias do nosso cotidiano. Constantemente, recebemos informações através das redes sociais ou somos avisados por familiares e amigos de que há um novo golpe na praça e que é para   ficarmos atentos  se acontecer tal coisa – sim, porque os bandidos estão ficando cada vez mais especializados, pois já mandam agendamento de supostas visitas para realização de serviços até pelo correio, já que tentar aplicar golpes usando email e telefone ficou muito manjado! É, o mundo está cada vez mais povoado de riscos, perigos e incertezas e nós precisamos aprender a lidar com isso.

Vivemos inseguros! A desconfiança generalizada tornou-se mecanismo de sobrevivência nos dias de hoje, e não é sem motivo que desconfiamos de tudo e de todos. Nós trouxemos o medo das ruas para dentro de casa e atualmente vivemos aterrorizados por fatos reais, crenças e aparências e, tudo o que está acontecendo no Brasil tem servido para alimentar nossos medos e criar desesperança; porém, a origem desses medos é muito anterior a isso, vêm desde a nossa infância e está relacionada ao quanto nós nos sentimos amparados e protegidos por nossos pais.

Quando a criança se sente amada pelos pais, ela também se sente protegida, pois sabe que pode contar com eles. Além disso, a forma como os filhos foram educados e orientados é de fundamental importância para que eles se desenvolvam de forma saudável; os que foram superprotegidos pelos pais, possivelmente, não tiveram a oportunidade de experienciar dificuldades e nem aprenderam a superar obstáculos e, sendo assim, tudo o que eles não conseguirem resolver de pronto, vai lhes parecer maior, mais difícil ou na casa do sem jeito.

Então, apesar de tantas circunstâncias desfavoráveis que existem na vida, é preciso buscar o equilíbrio entre a existência de riscos e nossa capacidade de confiar nos outros. Precisamos confiar para que tenhamos saúde mental. É preciso saber que nem todo mundo é desonesto, enganador, mentiroso e manipulador; é necessário ficar atento para reconhecer as ameaças, aprender a não confiar cegamente e procurar diferenciar o real do imaginário. Não tem como viver sem lidar com os perigos, mas é possível conviver com riscos e administrar circunstâncias. Certo?

Nós não poderemos confiar no que vemos e sentimos (sabe aquela intuição de que a pessoa é do bem?) se  nossa noção de realidade, de tempo, de espaço e do próprio eu está confusa. Todos nós vivemos regidos por um sistema de auto referência, que se traduz em nossas crenças e valores, mas é sempre bom lembrar que o outro é diferente de nós, pode até ser melhor, mas é diferente – o ser humano é único e diferenciado e constrói a sua realidade de acordo com suas percepções, temperamento e experiências, portanto suas vivências são absolutamente pessoais e particulares. Vamos ter muito cuidado com as generalizações!

Sabe aquela história do nosso caboclo marajoara que diz que é preciso confiar, mas desconfiando, até que as coisas nos pareçam muito verdadeiras, é isso! É preciso ficar atento aos sinais que a vida nos mostra, reconhecer as evidências e analisar os fatos, se possível sem muita paixão, para a partir daí definir caminhos; e se as coisas não estão indo bem para você, pense que “Ainda bem que sempre existe outro dia. E outros sonhos. E outros risos. E outras pessoas. E outras coisas”, como poeticamente dizia Clarice Lispector; no mais, feliz é quem se permite criar e viver muitos momentos de alegria e de paz.

 

 

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