CÍRIO DE NAZARÉ

   Cultura e solidariedade  

Há 231 anos, no segundo domingo de outubro, uma multidão de fiéis vem a Belém e junta-se aos que aqui moram para homenagear Nossa Senhora de Nazaré, a padroeira do povo paraense.  No próximo domingo, mais uma vez  acontecerá o Círio.  Não é exagero afirmar que somente quem já testemunhou essa manifestação de fé consegue entender esse fenômeno social que provoca emoção, leva-nos  às lágrimas e comove pela espiritualização que transcende crenças e descrenças.  Muito mais do que uma  expressão religiosa, o Círio de Nazaré é uma festa de todos!

Nossa padroeira tinha que ser uma mulher, já que o feminino é a fonte da vida e nossa referência maior  de amor. Nossa Senhora de Nazaré, como uma grande mãe amorosa, protege a todas as almas com suavidade e doçura, sem exigir comprovação de credo religioso, classe social, cor, orientação sexual ou idade. Ela estende a todos seu manto sagrado, iluminando nossos caminhos com sua força e  bondade  e, assim, renova a  esperança e, trazendo fé aos corações, alivia as dores.

O Círio representa a promessa de vida e paz no coração de nossa gente. O paraense é um povo festeiro, que compartilha risos e afetos, que vive a fraternidade e acolhe as pessoas na sua casa, não economizando carinho e aconchego. Ser solidário faz parte da nossa cultura e do nosso modo de viver. No Círio, a solidariedade é amplamente exercida como um ato de amor, respeito e  cidadania. A generosidade e o amor ao próximo se fazem presentes em cada canto da cidade, criando uma fraterna e amorosa rede relacional.

Nossa Senhora de Nazaré, mãe da nossa humanidade, acolhe nossos pedidos e súplicas, entende e se emociona com a nossa fé.  Sendo para nós uma referência de amor e bondade, nos ensina a ter empatia pelo sofrimento dos outros e a realizar ações em defesa das pessoas que são vítimas de preconceito, de intolerância e da falta de respeito às diferenças. Ampara quem não têm como sobreviver, acolhe os doentes e os enfermos, protege os excluídos e necessitados e resguarda as nossas florestas.

Com nossa Padroeira precisamos aprender o caminho do amor e da paz. Ter fé e rezar é importante, mas imprescindível é  exercitar ainda mais o humanismo,  para que a vida aconteça como na bela canção do Raimundo Gadelha e do Beka Sequeira:  “Reza terço, reza ladainha,  Nazaré, pra que o povo aprenda a lutar pelo que quer. Acuda-me, minha mãe,  me livra desse mal. Não permita, minha mãe, morrer nosso ideal”. Afinal,  temos em nossas veias sangue cabano.

O Círio é o Natal dos paraenses. É um momento em que nossa alma se ilumina e nosso coração transborda de amor. É o encontro com a família, com os amigos e com a nossa fé.  Além dos inúmeros pedidos que são feitos à Nossa Senhora de Nazaré, devíamos aproveitar e agradecer pela nossa vida e das pessoas que amamos e, mais ainda, devíamos  nos comprometer e lutar pela construção de um mundo mais fraterno, mais justo e mais igualitário. Nossa Senhora de Nazaré, abençoe a todos nós. Feliz Círio!

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