Das festas populares do Brasil, o carnaval é, com certeza, a mais importante, representativa e popular – afinal de contas, somos o país do carnaval e do futebol. Nesses três dias que antecedem a quaresma, o profano e o sagrado convivem de forma harmoniosa, permitindo com isso que a alegria, o humor, a liberdade, o amor e a fantasia possam pedir passagem, criando a oportunidade para que muitos foliões façam um acordo de coexistência pacifica com a dor e o sofrimento e, consigam subverter o curso da sua história nesse período – “carnaval, desengano. Deixei a dor em casa me esperando e brinquei e fui vestido de rei, quarta-feira sempre desce pano”.
No carnaval, como que por encanto ou magia, as desigualdades sociais diminuem ou até mesmo desaparecem. É doutor vestido de mendigo; é operário vestido de rei; é dona de casa vestida de diarista; é babá vestida de astronauta; é pirata malvado sorrindo pra vida; é a bela e sensual cigana que não quer ler a sorte de ninguém e sim ter sorte de encontrar alguém naquele cordão de iguais, onde a escolha da fantasia revela os desejos mais secretos.
Sonho e fantasia
No carnaval o espírito de liberdade também se traduz nos encontros de momentos, onde o desejo é aproveitar a ocasião “vou beijar-te agora, não me leve a mal, hoje é carnaval”. Não é sem motivo que a paixão no carnaval é tão bem representada pelo triângulo amoroso composto pelo pierrot ingênuo, sentimental e romântico, que vive apaixonado pela sedutora colombina, mas ela não tem olhos para ele pois é amante do galante arlequim. Nesse período tudo vale à pena, desde viver uma paixão de ocasião, até sonhar com a possibilidade de encontrar um amor verdadeiro.
Mas, nem tudo é sonho e fantasia. Durante o carnaval, nem todos sonham com samba e avenida. Muitas pessoas aproveitam o feriado para sentir a cadência do balanço da rede, se fantasiam de pijama, estandarte vira o lençol e o enrredo é criado por filmes, livros e pela convivência com familiares e amigos. Em qualquer circunstância, seja qual for sua escolha, colocar o bloco na rua ou descansar, não dá pra fugir da magia do carnaval, pois mesmo quem fica em casa acaba assistindo pela televisão os desfiles das escolas de samba e os flashes da folia pelo Brasil. E pra completar o cenário do feriado, nesse período do ano, nós já contamos com a presença da chuva boa e criadeira que lava alma, abençoa o corpo, esperta e adormece.
Transgressão consentida
Pra participar do carnaval é preciso sair pra rua com a alma leve, o coração sambando e se vestir de muita alegria. Carnaval é festa de coletivo, de bando, de ala, de bloco, de escola, de grupo de pessoas onde quase tudo é permitido, inclusive transgredir e experiênciar se vestir com roupas do outro sexo, com consentimento social. Fica decretado: no carnaval macho pode se vestir de mulher, desfrutar seu lado feminino protegido e, sem o perigo de ser taxado de gay; e mulher pode se vestir de homem, o que pra nós não tem muita novidade pois já incorporamos peças do vestuário masculino em nosso cotidiano (calça boy friend, camisa, blazer…). Ah, e como eles ficam mais afetivos, delicados e atenciosos vestidos de mulher.
Mas o melhor mesmo é que essa alegria adiada, esse grito abafado, essa liberação de emoções não termine na quarta-feira de cinzas. E, pra quem ficar em Belém, que tal aproveitar que o nosso carnaval de rua está cada vez mais animado e sair por aí celebrando a vida, engrossando os cordões do ELKA, Amigos do Urubu, Filhos da Glande, Fofó do Eloy, Jambu do Caveira e de todos os outros blocos e das Escolas de Samba que fazem a alegria do nosso carnaval. Mas lembre-: se beba com moderação e brinque de forma saudável. Feliz carnaval à todos!